No ser humano,
constata-se uma tendência para a automatização
do controle na execução de movimentos, desde os mais
básicos e simples até os mais sofisticados. Esse
processo se constrói a partir da quantidade e da qualidade
do exercício dos diversos esquemas motores e da atenção
nessas execuções. Quanto mais uma criança
tiver a oportunidade de saltar, girar ou dançar, mais
esses movimentos tendem a ser realizados de forma automática.
Menos atenção é necessária no controle
de sua execução e essa demanda atencional pode
dirigir-se para o aperfeiçoamento desses mesmos movimentos
e no enfrentamento de outros desafios. Essa tendência para a
automatização é favorável aos processos
de aprendizagem das práticas da cultura corporal desde
que compreendida como uma função dinâmica,
mutável, como parte integrante e não como meta
do processo de aprendizagem.
Por exemplo, quanto mais automatizados estiverem os
gestos de digitar um texto, mais o autor pode se concentrar
no assunto que está escrevendo. No basquetebol, se o
aluno já consegue bater a bola com alguma segurança,
sem precisar olhá-la o tempo todo, pode olhar para os
seus companheiros de jogo, situar-se melhor no espaço,
planejar algumas ações e isso o torna um jogador
melhor, mais eficiente, capaz de adaptar-se a uma variedade
maior de situações.
No entanto, a repetição pura e simples, realizada
de forma mecânica e desatenta, além de ser desagradável,
pode resultar num automatismo estereotipado. Dessa forma, em
cada situação, é necessário que
o professor analise quais dos gestos envolvidos já podem
ser realizados automaticamente sem prejuízo de qualidade,
e quais solicitam a atenção do aluno no controle
de sua execução. A intervenção do
professor se dá a fim de criar situações
em que os automatismos sejam insuficientes para a realização
dos movimentos e a atenção seja necessária
para o seu aperfeiçoamento.
A quantidade de execuções justifica-se pela necessidade
de alimentar funcionalmente os mecanismos de controle dos movimentos,
e se num primeiro momento é necessário um esforço
adaptativo para que a criança consiga executar um determinado
movimento ou coordenar uma seqüência deles, em seguida
essa realização pode ser exercida e repetida,
por prazer funcional, de manutenção e de aperfeiçoamento.
Além disso, os efeitos fisiológicos decorrentes
do exercício, como a melhora da condição
cardiorrespiratória e o aumento da massa muscular, são
partes do processo da aprendizagem de esquemas motores, e não
apenas um aspecto a ser trabalhado isoladamente.